domingo, setembro 12, 2004

Falar é fácil, o Difícil é não falar

Pois é, já muitas vezes ouviram esta frase: "Falar é fácil", fazer é que é difícil ...
Olhem que não, olhem que não ...
O difícil é mesmo não falar, vejam porquê:

Tinha eu acabado uma série de 2 dias seguidos intensos de trabalho para um projecto que era para entregar ate à meia-noite, pela Internet, tudo tinha corrido mais ou menos bem, eram neste momento quase 1 da manhã, no dia anterior tinha dormido apenas uma 3 ou 4 horas, resumindo: estava podre de sono e queria ir para casa. Deixei o escritório e dirigi-me ao Metro, sempre com um olho atrás outro à frente, sim, porque andar no Saldanha a essa hora não é coisa boa … Entrei no metro, estação vazia, chegou o metro, entrei no metro, metro vazio, sentei-me logo no primeiro banco, virado para a entrada (ou será que foi para a saída?) sempre com um olho em cada porta, não vá o Diabo tece-las (ou será o Africano?), quando estou a chegar à 3ª estação vislumbro um vulto na plataforma, estou lixado, penso eu, a esta hora das duas uma: Ou é um extraterrestre, ou é um drogado!
Conforme a carruagem se aproxima, cada vez mais devagar, o vulto começa-se a definir, de baixo para cima: saia curta, rabo definido, peito saído, cabelos compridos …
Esta é que não estava nada à espera, encontrar um travesti no metro àquela hora não era nada bom, rapidamente passei de ateu a crente convicto: “Deus se existes diz-me que aquilo não é um travesti!”. Ao aproximar-me cada vez mais, consegui notar em pequenos gestos e feições de feminilidade, era uma mulher, ou melhor, uma rapariga com seus 20 e poucos anos, que alivio. Em poucos segundos a situação mudava completamente, passava de predador a presa … O metro parou, ela ficou mesmo de frente para a minha janela, sem contudo lhe conseguir ver a cara, de corpo era jeitosa, devido ao reflexo e aos aros dos vidros. Abriram-se as portas, e vi-a desaparecer por trás da porta, e então decidi rezar novamente:”Deus se és Bom e Misericordioso, faz com que se ela for bonita se venha sentar ao pé de mim!”, sei que estava a abusar da sorte, mas afinal de conta ele é omnipotente!
Quando ela entrou na carruagem, iluminada pela luz morna da carruagem, pude constatar que era podre de cara! A única coisa que me passava pela cabeça era: “Pronto tem calma, eu sei que tens andado a trabalhar de mais, que só tens visto “printf” e “char *s” à frente, mas isso não é razão para teres alucinações! Mas ao mesmo tempo ela parecia tão real, mais real ainda quando olhou para toda a carruagem como se à procura de lugar, e sentou-se logo no banco mais próximo, exactamente à minha frente! Obrigado Deus, a partir de hoje não falho mais nenhuma missa ao domingo, pensei eu…
Mas o mais curioso foi que não trazia nenhum sorriso nos lábios, nenhum ar de atrevida, sentou-se à minha frente como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se fosse hora de ponta e aquele fosse o único lugar livre em toda a carruagem …
E aqui estamos de volta ao principio do texto:
“Falar é fácil, o Difícil é não falar”
Pois é meus amigos, tinha à minha frente uma das raparigas mais belas que tinha visto em toda a minha vida, e tinha o eterno dilema, falar ou não falar …Decidi arriscar:
Carlos: Como é que te chamas?
Ela: Raquel.
(Finalmente aquele rosto tinha nome: Raquel, mesmo a calhar para não ter que ter um dialogo no Blog com uma personagem chamada Ela!)
Raquel: E tu?
Carlos: Pinas.
Raquel: Pinas?
(Bolas, Raios, Damn it! Nada poderia correr mal naquele dialogo a não ser eu enganar-me a dizer o próprio nome! Que tanso! Tentei corrigir:)
Carlos: Carlos Pinas. (Não valia a pena tentar-me corrigir, ambos tínhamos dito explicitamente Pinas, tinha que levar para a frente o embuste sob pena de ela levar aquilo como uma brincadeira de mau gosto e ficar com má impressão de mim).
Fixei o meu olhar um pouco no vidro, como que parando para reflectir, mas ali era difícil, quanto mais fixava o vidro, mais depressa via as luzes do túnel a passar… E a minha estação era já a próxima, tinha que agir rapidamente!)
Carlos: Então, que faz uma menina sozinha a estas horas no metro?
Raquel: Tive um jantar de anos que acabou tarde, não me apeteceu ir sair.
Carlos (mesmo antes de esperar por ela dizer:”E tu?): Eu tive um projecto para entregar (e nisto vejo uma forte luz a aproximar-se, é a minha estação! Continuo a frase apressadamente) hoje à meia-noite, já ontem me deite bueda tarde, ando bué cansado.
Rapidamente, como se o banco me tivesse dado um choque, levantei-me e fui em direcção à porta, o Metro parou, soltei um ligeiro “Adeus” esperei que as portas abrissem e sai, não sem antes ouvir como que se de um sussurro se tratasse: “Xau”.
Sorri, e naquele momento senti-me o homem mais feliz do mundo.

Não tinha feito nada de especial, a não ser conhecer uma gaija que nunca mais verei na vida! E que ao contrario de todos os outros relacionamentos que tive com raparigas, até me correu bem! Era isso que me fazia tão feliz, por breves instantes um começo de uma amizade se passou ali, sem futuro quase certo, mas quem é que tem certeza absoluta do seu futuro? Quem é que se pode congratular dos sentimentos futuros? Só há uma coisa que interessa: O Presente, e eu tinha acabado de conhecer uma rapariga espectacular! O resto não interessa, o que interessa é que me sentia bem! SENTIA A FELICIDADE A CORRER-ME NAS VEIAS … E foi assim o meu percurso até casa, sempre com um sorriso nos lábios, se fosse noutra altura certamente ficaria a noite toda acordada, mas não aguentava de tanto sono, e ao primeiro fechar de olhos, embrenhei-me no sono profundo…

Moral da Historia: Não tem. (A não ser aquela parte de Deus existir e ser bom e miserricordioso.)

Carlos Pinas, O Homem que domina travessas e esquinas ...

3 comentários:

Anónimo disse...

por vezes não é o texto que importa, nem a musica que se ouve, ou a imagem que se vê, mas sim a mensagem que se transmite...e se tiver um pouco de humor pelo meio ainda melhor
e a tua é bastante válida :)
keep it going

Carlos Pina disse...

Obrigado pelos comentarios que começam agora a aparecer ;)

Este é um deles, e tambem recentemente foram postados mais comentários noutras "historias" (nunca sei que nome dar a estes "artigos").

Espero que continuem a fazer comentários,porque o "feedback" é muito importante, e peço tambem desculpa por não ter podido escrever ultimamente mas eu acho que se não se tem nada realmente "util" e bom para escrever não vale a pena... E também quando não se tem tempo para parar um pouco e pensar em algo para "blogar".

Abraços a todos, e continuem a comentar!

Anónimo disse...

Mas Deus não existe